Por que só os filhos de Obaluaiê podem incorporar o Orixá?
Por: Pai Alexandre Falasco

Saiba mais sobre esse fundamento da Casa de Pai José.
No Barracão de Pai José, em Jundiaí, o Olubajé é um dos ritos mais esperados e respeitados do ano. Dedicado a Obaluaiê, o ritual reúne simbolismos, preparos especiais e uma regra que costuma gerar curiosidade: apenas os filhos de Obaluaiê podem dar passagem ao Orixá durante a cerimônia.
Por que só os filhos de Obaluaiê podem incorporar?
Na Umbanda, é comum que médiuns recebam mensageiros de diferentes Orixás. Em uma gira de Ogum, qualquer médium preparado pode receber Ogum; em uma gira de Oxóssi, o mesmo acontece, mesmo que esse médium não tenha o Orixá na coroa. Mas no Olubajé, a regra é diferente.
Segundo explica o Preto-Velho Pai José de Aruanda, guia espiritual da casa, a energia de Obaluaiê é densa e diferente, ligada às doenças e à morte. Somente quem tem Obaluaiê na coroa, confirmado pelo jogo de búzios, possui a proteção natural necessária para lidar com tamanha força sem sofrer desequilíbrios.
É como se o próprio Orixá entregasse a seus filhos uma credencial espiritual que os autoriza a receber sua vibração com segurança.
A força que exige preparo
No Barracão de Pai José, não basta apenas ser filho de Obaluaiê. Para que o rito aconteça, há uma sequência de preparos:
Doburu: o banho de pipoca realizado na sexta-feira, que purifica e fortalece os médiuns que irão incorporar.
Oferenda coletiva: dedicada por todos os seus filhos a Obaluaiê.
Azé: a tradicional roupa de palha que cobre corpo e rosto do Orixá. Sem ela, Obaluaé simplesmente não se manifesta.
Esses elementos formam a base espiritual que garante a segurança do rito.
Para a Ialorixá do Barracão, Mãe Silmara, que não tem Obaluaiê na coroa, o Olubajé também é um poderoso exercício para os médiuns em desenvolvimento. Segundo ela, o rito ensina sobre diferenças de irradiação, autocontrole e responsabilidade espiritual.
"O Olubajé é um dos ritos mais desafiadores. Começa no silêncio, na concentração e se estende até o respeito ao limite da incorporação, quem pode e quem não pode.
Se você não é filho de Obaluaiê, deve se concentrar, mentalizar. Se acaso sentir vontade de chorar, chore. Cada um vive uma emoção diferente. Particularmente, eu sinto uma densidade muito forte nesse trabalho, fico quase petrificada, sem ação. Mas é importante entender que mesmo assim nós temos controle.
A primeira lição, e talvez a mais importante, é que a incorporação é voluntária e nunca involuntária. Incorporação involuntária é possessão, e no Barracão ninguém é possuído. O que fazemos é vivenciar essa energia, respeitá-la e extrair dela o melhor para nós mesmos."
Essa fala traz a perspectiva prática e vivida da dirigente, reforçando que o Olubajé, além de tudo que significa, traz também um aprendizado profundo sobre autocontrole, disciplina e maturidade mediúnica.
Um rito de respeito e aprendizado
O Olubajé é muito mais que um ritual fechado. Ele é também uma lição espiritual, mostrando que cada Orixá guarda seus próprios mistérios e exige cuidados específicos. Celebrar Obaluaiê é reverenciar o poder que rege cura, doença, vida e morte.
No Barracão de Pai José, o rito nos lembra que diante de forças tão intensas, respeito e preparo são indispensáveis.