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A Panela da Magia

A Panela da Magia

O Poder de Oxum e sua ligação com Obaluayê

É de amplo conhecimento dos adeptos das religiões de matriz africana que Oxum, a Orixá dos rios e cachoeiras, do ouro e responsável pela fertilidade feminina, foi esposa de Ogum, e posteriormente de Xangô. Foi ela, também, quem conquistou Oxossi com o mel, e dessa união nasceu Logunedé, o Príncipe das Matas. Porém, o que poucos sabem é sobre a ligação da Orixá com o Orixá Obaluayê, o Orixá das Doenças contagiosas e da morte. 
 
Essa ligação é evidenciada em uma conhecida cantiga de Oxum, cuja primeira parte foi eternizada pela voz de Maria Bethânia em seu “Canto de Oxum”:
 
“Yèyé e, yèyé ṣ’oròodò,
Yèyé e, yèyé ṣ’oròodò,
Olóomi ayé ṣ’orò ọmọn fẹẹ ṣ’oròodò”
 
Mãe que faz o rio ser sagrado, mamãe,
Mãe que tornou o rio sagrado, 
Senhora das águas que dão Vida aos filhos queridos e torna o rio sagrado.
 
(texto original extraído de “Cantando para os Orixás”, de Altair t’Ògún, ed. Pallas)
 
Nesta passagem, o ponto evoca a relação de Oxum com os rios, e sua importância para a manutenção da vida na Terra. Conta um itã que no princípio do mundo, apenas os Orixás homens tomavam as decisões mais importantes para a humanidade. Oxum, então, insatisfeita por não poder participar das reuniões em que os Orixás homens deliberavam, utilizou seu poder para tornar todas as mulheres estéreis, fazer as fontes secarem e tornar a terra infértil.
 
Sem saber o que fazer, os Orixás procuraram Olorum para saber o que fazer, e este perguntou porque Oxum não participava das reuniões. Foi então que Olorum lhes explicou a importância de Oxum na terra, e que nada haveria de prosperar sem o poder de Oxum sobre a fecundidade. Foi assim que Oxum conquistou o direito à voz feminina nas deliberações sobre o mundo.
 
O ponto continua:
 
“yèyé ṣ'olù gbà jẹ
iso iso
ṣ'olú gba jé
fẹẹ ṣ’oròodò”
 
A Mãezinha fez o Senhor aceitar comer
segurou-o
A Mãezinha fez o Senhor aceitar comer
Mãezinha querida que fez o Rio tornar-se sagrado
 
Andrea Caprara, em seu texto “Médico Ferido: Omolu nos Labirintos da Doença”, publicado no livro “Antropologia da Saúde: traçando identidade e explorando fronteiras”, relata que Mãe Detinha de Xangô, do Ilê Axé Opô Afonjá, explicou a origem dessa ligação entre Oxum e Obaluayê - que é também a origem do Olùgbàjẹ, homenagem ao Orixá Obaluayê, - por meio de um itã, que conta que certa vez Omolu se aborreceu muito, e sumiu do mundo. Ninguém conseguia achá-lo, exceto Oxum, que conseguiu convencer o Orixá da Varíola a sair de dentro do buraco onde se encontrava por meio da comida, extremamente gostosa e perfumada, onde dizem se encontrar o feitiço de Oxum. 
 
Quando Omolu, que há dias estava com fome, enfim saiu, Oxum lhe entregou a comida e nesse momento, agarrou Obaluayê e o trouxe de volta à cidade. Esta cantiga seria a que Oxum usara para avisar o povo que ele havia sido encontrado e aceitou comer. E, a partir desse dia, segundo Iyá Detinha, Oxum e Obaluayê “se tornaram amigos, muito amigos”.
 
Essa ligação é corroborada também por José Flávio Pessoa de Barros em seu livro “
 
Na Minha Casa: Preces aos Orixás e Ancestrais” (Ed. Pallas, 2003). Em uma das rezas para Oxum, podemos encontrar a frase “Mò rere Olugbàje mo ní ó, Òde l’odò”, que pode ser traduzido como “(Oxum)conhece bem o Senhor que aceita comer, e o reconhece à margem do rio”, e essa referência encontra respaldo em outra reza, desta vez para Obaluayê, que diz “Obalúwàiyé, Obalúwàiyé, Oba t’òtá, gbèé to Bàbá, É Òrìşà oni ‘mo dé”, traduzida como “Rei e Senhor da terra, Rei e Senhor da terra, Rei das Pedras, protegei bastante, Pai, Orixá e Senhor dos filhos que chegam”. Nessa reza, o Senhor da Vida e da Morte é chamado de “rei dos otás”, pedra que materializa o Axé dos Orixás nos Assentamentos. Seria Ele, Obaluayê, quem tem o poder de transformar simples pedras das margens dos rios de Oxum em “morada dos deuses”, segundo José Flávio, e nesse fato reside, também, essa ligação entre os dois Orixás.
 

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