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10ª Festa de Ogum no Barracão.

10ª Festa de Ogum no Barracão.

Mais de 80 fotos de uma festa marcada pela emoção.

Por Pai Alexandre Falasco

Numa tarde de outono, o sol estava brilhante e aquecia suavemente as pessoas que chegavam ao Barracão para um dia mais que especial.

Da entrada principal podia se ver as flâmulas vermelhas de tecido semitransparente com uma cruz ao centro, lembrando os estandartes ostentados pelos cavaleiros templários, balançavam com a brisa e rebatiam os fechos de luz dourada que penetravam pelas fendas transparentes do telhado sobre os visitantes que já haviam se acomodado para prestigiar o evento.

Rosas vermelhas, símbolo do Orixá festejado, estavam por toda a parte, muito bem decoradas com espadas de Ogum e mariwo.

A ansiedade ia aumentando a medida que se aproximava do recinto da festa pois os couros dos atabaques já estavam sendo aquecidos pelas mãos dos ogãs que entoavam cantigas para Ogum, numa espécie de ensaio para a hora de trazer os mensageiros do grande Orixá guerreiro.

De passagem, podia ser tocada a imagem de São Jorge, belissimamente enfeitada de flores, dentro de seu andor, pedidos e agradecimentos ao santo que mais tarde seria carregado pelos orgulhosos filhos-de-santo para seu devido lugar, o congá da casa de Pai José.

O tempo passou despercebido, entre as saias brancas das filhas da casa que cruzavam de um lado a outro o terreiro para deixar tudo pronto, as ervas, a pemba e a deliciosa feijoada, comida de Ogum, e logo estávamos cantando para Exu cuidar de tudo lá fora para aproveitarmos em paz o trabalho que agora se iniciava.

Quem é do riscado não viu mais nada daí para frente, só sentiu o Axé, a força gigantesca que foi derramada sobre todos naquele lugar. Porém, se não viu, ouviram, mensagens de encorajamento da mãe de santo, palavras de uma guerreira que precederam a tradicional oração de São Jorge tão bem entoada por ela, como sempre, ouviram também  os tambores, os brados dos mensageiros que chegaram, sentiram o cheiro das ervas queimando no turíbulo, foi um dia de sentidos aguçados, sobreduto o sexto sentido.

Não podia ser diferente, foi a décima festa de Ogum do Barracão de Pai José de Aruanda, e quem conhece a história sabe bem como os caminhos da casa se cruzam com os domínios deste Orixá, a comemoração desta data marcante encontrou seu ápice no estourar dos fogos de artifício e toques fortes de atabaques, que anunciaram a entrada da imagem de São Jorge, recebida com chuva, mas não de água, a não ser pelas lágrimas de emoção dos mais tocados, mas chuva de pétalas de rosas, lançadas com gratidão por todos os participantes e médiuns da corrente.

As águas correram mais tarde, com a “limpeza” generosa das Iabás que trouxeram o Axé das águas de todas as procedências para encerrar um trabalho humilde e ao mesmo tempo magnífico.

Ao badalar do sininho, que toca baixinho depois do frenético fechar dos couros e declara encerrados os trabalhos daquele dia, o sentimento não poderia ser outro que não o de dever cumprido, tal qual o de um soldado que, cansado da batalha, se orgulha da missão e volta para casa feliz para o seio de sua família, sabendo que está pronto para defendê-la sempre que for necessário pois está vestido com as roupas e as armas de São Jorge.


“Dedico esse texto a todos os meus filhos de santo, mas especialmente a minha querida Silmara Falasco, que há 15 anos se dedica a essa festa, e nos últimos dez, a realiza com maestria nessa casa abençoada, o Barracão de Pai José de Aruanda”.

 

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